Opinião:
A 19ª esposa de um líder e profeta de uma seita religiosa do século XIX, Ann Eliza, teve a coragem de se opor às tradições poligâmicas que, em nome da religião, desprezavam as mulheres. Este é o ponto de partida para um romance polémico, sobre um tema sempre actual: a influência das tradições religiosas na relação entre o masculino e o feminino que, muitas vezes, encobrem injustiças e mesmo actos de violência, mostrando, desta forma que, por vezes, a religião conduz a comportamentos verdadeiramente criminosos.
Trata-se de um assunto delicado mas o autor, David Ebershoff não foge à polémica. Pelo contrário, enfrenta-a corajosamente sem cair na facilidade da polémica mediática. Nós, que muitas vezes acusamos o mundo árabe de se deixar influenciar pelo fundamentalismo religioso, esquecemos por vezes as marcas desse fanatismo na nossa própria sociedade.
Em termos estilísticos, este é um livro muito inovador e criativo. O autor gere com muita mestria os diferentes tempos narrativos, numa linguagem muito interessante a que não será estranho o facto de o autor ser especialista em escrita criativa.
É um livro que se lê com muito interesse, fornece grandes motivos de reflexão, constitui uma leitura agradável, se bem que o enredo gere por vezes uma certa revolta interior perante as injustiças que a religião alimentava.
